Escrevendo para um produto global

A jornada de uma UX writer não nativa de Inglês escrevendo para um produto global.

Julia Goncalves
4 min readNov 23, 2022
Charco by Karthik Srinivas

Um ano se passou desde que comecei a trabalhar na Pipefy, e que experiência tem sido!

Desde o processo de seleção, um aspecto que me fez brilhar os olhos, foi o desafio de escrever para um produto global. E o que isso significa?

Significa que tudo o que escrevemos para a interface do nosso produto, é pensado primeiramente em Inglês, e mais: consideramos aspectos não apenas gramaticais, mas também aspectos culturais e tendências linguísticas para entender a nossa pessoa usuária e endereçar os problemas ou oportunidades no produto.

Dando alguns passos para trás, essa não é a primeira vez que eu trabalho em um produto com versões para diferentes idomas, mas é a primeira vez que o Inglês se tornou o meu idioma de trabalho principal.

Antes da Pipefy, eu escrevia exclusivamente em Português, e tudo que eu criava passava pelo time de tradução (Oi, Jacobo e Peter!). Esse time garantia a qualidade do conteúdo traduzido e localizado para o Inglês e Espanhol. Embora tivéssemos uma plataforma de localização chamada Crowdin, eram eles que verificavam se todos os títulos, instruções e CTAs estavam adequados nos outros idiomas.

Depois de um tempo, esses profissionais foram alocados na equipe de Design de Produto para que nosso trabalho ficasse ainda mais conectado, já que eles também precisavam entender o contexto das nossas soluções de design e as nossas pessoas usuárias. Um exemplo de como esse processo se tornou intrínseco ao nosso dia a dia, é termos adicionado um guia de localização ao nosso Design System.

Com essa experiência anterior ao Pipefy, pude entender como a tradução e a localização são vitais para qualquer negócio que deseja garantir a melhor experiência para qualquer público. Aprendi como os tradutores podem ser um bem precioso e como eles complementam muito bem o meu papel de UX writer.

Na Pipefy eu sabia que não teríamos pessoas especializadas cuidando da qualidade da tradução e localização do produto. Uma justificativa para isso era a de que no time de conteúdo tínhamos pessoas americanas, e elas revisavam os textos. Esse processo, por mais que não fosse o ideal, resolvia.

Mas o que isso impactava na minha atuação? Muito.

Cada linha de texto deveria ser entregue em Inglês e Português, o que significava o dobro da carga de trabalho para mim como UX writer solo. Além disso, não ter uma cultura ou processo de localização dentro da empresa fez com que algumas partes do produto não estivessem traduzidas corretamente ou estavam traduzidas de maneira inconsistente. Só isso já levou um tempo para consertar.

Após os primeiros meses, eu sabia que tinha muito o que estudar e investigar para entender os aspectos linguísticos e culturais das nossas pessoas usuárias, e ainda reforçar a necessidade de uma equipe especializada em localização na Pipefy.

Para poder escrever em Inglês levando em consideração os aspectos de localização, e sem uma equipe me apoiando, contei com a minha parceria com a equipe de pesquisa. Isso me deu a energia para iniciar o processo de entender e validar nossas decisões de conteúdo.

Uma das primeiras estratégias foi sempre trazer pessoas nativas do Inglês para todo e qualquer estudo de pesquisa. Gerávamos um roteiro em Inglês e Português para entrevistas, por exemplo, e versões nos dois idiomas também para os testes não moderados.

Nunca deixa de me surpreender como os resultados dessas pesquisas são consistentemente diferentes entre pessoas falantes de Português e Inglês. Se simplesmente traduzíssemos o conteúdo, estaríamos usando palavras e expressões que estariam longe do que ressoa com as pessoas usuárias.

É importante pontuar um desafio para o nosso time: a nossa base de clientes fora do Brasil é menor do que a base de clientes no Brasil, o que torna o recrutamento de pessoas falantes de Inglês mais demorado. Para contornar esse obstáculo, contávamos com plataformas como User Testing e User Interviews para recrutar e testar rapidamente.

Um aspecto curioso que aprendemos ao longo do caminho é o quão objetivas as pessoas falantes da língua inglesa geralmente são. Para se ter uma ideia, um roteiro de entrevista que com brasileiros dura em média 50 minutos, com pessoas não brasileiras cai para quase a metade.

Diferenças entre número de caracteres dos textos é algo que constantemente estamos nos preocupando também, pois em Português os textos tendem a ficar bem maiores do que quando comparado ao Inglês.

A dor de escrever para produto em Inglês e depois localizar para Português

Participar das pesquisas em Inglês e Português, me fez aprender muito sobre como a cultura reflete na maneira como as pessoas se expressam e compreendem os conteúdos. Essa imersão é o que me permitiu escrever para um produto global, mesmo não sendo uma pessoa nativa do Inglês.

Ainda estamos trabalhando para um processo de tradução e localização maduro no Pipefy, mesmo sem um time especializado dando suporte.

Nessa jornada de aprendizado, reforço mais uma vez a necessidade desse perfil de profissional trabalhando em parceria com Designers de Produto, Gerentes de Produto e Pessoas Desenvolvedoras.

Espero que esse artigo tenha lhe ajudado a encontrar caminhos para atuar ou mesmo a reconfortar de que você não está sozinha. Boa localização para você!

This post is also available in English.

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